O INCAUTO TELEGRAMA
Ainda lembro-me como se
fosse ontem, um dia chuvoso e com muito trabalho.
11 de junho de 1.992, às
vésperas do dia dos namorados, eu estava muito feliz, carteiro com a função de
agente postal, recentemente admitido na empresa Correios.
Ainda cumpria o período de
experiência, quando isso aconteceu, um mal entendido? Ou uma mera displicência.
Adágio era um homem casado,
alto, moreno, olhos castanhos claros e aparentando lá seus 40 anos, cabo da PM,
amigos de todos e muito conhecido na pequena cidade de São Sebastião do
Fidalgo.
Valentina sua verdadeira
esposa, loira de olhos verdes, tinha
mais ou menos uns 25 anos, formada em medicina, mas, atualmente não
trabalhava. Tinha cara de menina mimada, porém muito bonita como uma flor menina.
Simão meu chefe imediato,
extremamente um homem bom, dedicado aos Correios, com a dedicação de sempre
fazia gestão como ninguém.
Passava das 17 h, o dia
chegando ao seu final, tempo nublado ainda caia uma chuvinha bem fraquinha,
nada anormal. Nesta hora fechávamos as expedições que seguiriam o fluxo normal
diariamente.
Naqueles tempos os
telegramas eram transmitidos e recebidos por via telex, uma máquina velha que
hoje em dia são obsoletas, fora de uso na empresa.
Além do mais com seus
enunciados pouco legíveis deixavam certa dúvida na leitura, mas não é esta uma
desculpa para o veredito. Portanto, fui eu o incumbido para o dito telegrama
entregar.
Em tão pouco tempo neste
distrito, como eram chamados os bairros ou as áreas demarcadas para que o carteiro
realizasse as tarefas diárias, eu já conhecia muito bem e sabia onde Adágio e
sua linda esposa moravam.
Foi aí que tudo aconteceu, o
endereço da residência de Adágio era próximo sendo este a minha opção de
entrega, pressa ou falta de atenção? Como sempre inimigas da perfeição.
Tratava-se de um telegrama
MP (mão própria), só poderia ser entregue ao destinatário, no caso o Senhor
Adágio, como também no referido endereço.
Quartel da Polícia Militar.
Foi tudo tão rápido, chegando à residência de Adágio, sua
esposa Valentina prontamente recebeu-me e, sem pestanejar foi logo assinando o
comprovante de entrega, gentilmente agradeceu-me e dentro de poucos minutos aos
Correios retornei.
Entretanto, na hora de transmitir a confirmação de
entrega ao remetente meu chefe percebeu que o nome do recebedor não era o
próprio destinatário.
Tarde demais, tudo já tinha acontecido, àquela altura da
situação era aguardar a reclamação e torcer para não ser demitido.
A noite foi longa, quase uma eternidade, perdi o
sono era grande a ansiedade, pela manhã
respirei fundo e pensei, seja o que Deus quiser, vou encarar os fatos e falar a
verdade.
Cheguei logo bem cedo e confiante, cabeça erguida e olhar
no horizonte, bom dia a todos fui logo dizendo, mas por dentro a fadiga me
consumia. Simão olhou-me com ar de reprovação e foi logo dizendo, tem alguém aí
no escritório querendo esclarecer a confusão.
Não me restou alternativa fui logo pedindo desculpas,
aliás, o erro foi meu e eu sempre assumi as minhas culpas, coloquei-me à
disposição para ajudar foi esta minha conduta.
Simão também pediu desculpas em meu nome e ainda
acrescentou: Meu carteiro é um ótimo funcionário, será advertido e poderá
sofrer punição.
Diante de tamanho incomodo fiquei totalmente sem ação,
Adágio então disse pausadamente: você entregou para minha esposa um telegrama
da minha amante e para piorar a situação o resultado do seu erro foi uma
separação.
Apesar dos pesares ele estava notadamente muito calmo e
para minha felicidade enfatizou o seguinte: Não quero aqui prejudicá-lo, até
porque nada mais poderá ser feito, minha esposa já foi embora e dentro de
poucos dias estanciará outra diva naquele mesmo endereço. Cumprimentou o chefe
e disse-me, muito cuidado, na próxima pode custar seu emprego.
Este causo foi real e aconteceu comigo, deixando na minha
unidade um Slogan que durou muito tempo, todos passaram a me chamar de “O
destruidor de casamento”.
Fim.
Edbento!
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